segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Dois encontros com Madame Bovary




Amadurecimento pessoal é uma coisa incrível, e às vezes a literatura acaba sendo um termômetro dele.
Há alguns anos, eu li Madame Bovary. Não tudo, infelizmente, pois larguei a história pela metade. Flauber com sua heroína pouco convencional atacava meus valores morais com tudo: na questão do casamento, da família e também da conduta pessoal. Não podia entender como uma mulher que tinha um bom marido, uma casa confortável e uma filha saudável, não valorizasse o que possuía para ficar admirando a grama alheia.
O fato é que Emma não era uma mulher “recata e do lar”, por isso não se sentia conectada com as pessoas de sua família. Beirava ao egoísmo extremo e isso me chocava demais. A identificação com a personagem foi zero.
Alguns dias atrás, porém, vi o filme estrelado por Mia Wasikoska como Madame Bovary. Ele mostrava a personagem de um ângulo mais favorável, porém,  DETESTEI. Os diretores tiraram da personagem tudo o que a caracterizava, para transformá-la numa Effie Grey injustiçada.
O marido de Emma de quem eu senti muita pena na primeira vez, pareceu um pouco tirânico ao não permitir que a esposa fizesse um monte de coisas bobas e um machistão na cama. Como se isso fosse a justificativa para ela querer algo mais da vida. Foi uma péssima construção dos diretores, na minha opinião. Bovary traiu o esposo antes por sua falta de atrativos e caráter insosso do que por algum tipo de vileza do médico.
Acho que diminuíram a personagem, sabe? Não que hoje eu me identifique com ela, mas entendo que se sentisse mal com sua situação de mãe e esposa, pois sei que nem todos são feitos para isso, mas a sociedade continua apontando esse caminho como o único para a felicidade e muita gente cai nessa conversa até hoje.
Dessa forma, me sinto conciliada com a personagem. Não é nada demais o que ela faz, muita gente já fez o mesmo em casamentos infelizes, afinal somos humanos e sempre buscamos a felicidade mesmo que a própria busca, por vezes, seja responsável pela nossa ruína.

2 comentários:

  1. bovary não queria de modo algum aquela vida pacata. e ainda foi manipulada pelo vendedor local. eu acho que padeceria do mesmo mal dela, o tédio. a cidade não tinha teatros, bibliotecas, saraus. eu não suportaria viver sem cultura. os amigos eram do marido e as conversas eram medicina. insuportável. é incrível o filme com a huppert. mostra bem a angústia dela pela vida insossa. se ela fosse louca pelo marido e eles fossem participativos. mas ele sempre viveu fechado no seu mundo e ela não encontrou amigas que pudessem se distrair criando atrativos. eu gosto desse filme da mia. não pouca ela realmente. mas ninguém pode ser condenado por se perder em si mesmo pq nao entende o q acontece. as resenhas dos dois filmes estão aqui https://mataharie007.blogspot.com/search?q=bovary o livro eu li faz tempo e era de uma biblioteca. beijos, pedrita

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  2. Ao contrário de você, eu amei essa história quando a li na minha juventude ( pra mais de vinte anos... ). Preciso ler de novo! Mas me falaram de um outro livro de Flaubert que dizem ser melhor - Educação Sentimental.
    Como sou bem lenta nas leituras, não será por agora, mas, ainda leio!
    Beijo Alê!

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