segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sobre contos de fadas

Outro dia, quando eu discutia um jogo de RPG que estou prestes a começar a participar, descobri que a maioria dos participantes apostava que eu escolheria ser uma fada. Achei estranho, na minha cabeça fadas são piriguetes nanicas (sininho teve grande influência no meu imaginário...), mas ao que parece eles chutaram esse personagem por eu gostar de contos de fadas.

Quando eu disse que não gostava desse tipo de literatura por causa desse personagem em especial, me perguntaram porque então eu falo tanto desses contos tradicionais. Na hora eu não soube responder, mas o fato é que eu tenho uma longa história com eles. Então senta que lá vem história:

Tolkien afirma em seu livro "Arvore e folha" que o conto de fadas não é uma propriedade exclusiva da infância. O ser humano em geral gosta da fantasia, do escapismo e essa preferência vai até a idade adulta. Eu concordo com ele, até porque lá na Idade Média quando as histórias de fadas foram surgindo, elas tinham um tom pra lá de brutal: falavam de canibalismo¹, estupro, trapaça e rancor de classe (afinal com o surgimento do senhor feudal, o pobre tinha quase nenhum direito, inclusive não podia caçar nas terras do seu senhor), nada super apropriado para a infância certo? Nessa época, os contos estavam mais próximos da tradição oral de tribos indígenas do que da literatura infantil, pois transmitiam um saber das camadas populares.

Porém, é claro que até hoje gosto de contos de fadas por lembrarem a minha infância, apesar de eu ter lido e visto filmes sobre o assunto durante toda minha vida. No início eu gostava das princesas, até porque as fadas eram sempre secundárias naquele tempo. Só foram ser exploradas amplamente com a Tinker Bell (pra mim vai ser sempre Sininho), mas nesse tempo eu já era grandinha e não tive grande apego à essas personagens. A única fadinha que eu sou fã é a Clara Luz, do livro "A fada que tinha ideias", que me foi dado pela amiga Pandora. Essa garotinha, cheia de amor e imaginação enfrentou as regras ditatoriais da chefe das fadas e libertou seu mundinho da repetição e da falta de criatividade. Tudo isso escrito e publicado durante o Regime Militar Brasileiro. A autora foi muito corajosa.


No entanto, hoje em dia, as princesas nem fazem mais parte do meu rol das preferidas. Continuo gostando dos contos, mas por motivos diferentes, pois na faculdade tive a oportunidade de estudar mais sobre a história dessas narrativas e dei de cara com Giambattista Basile (o cara que escreveu que os bebês da Bela Adormecida foram concebidos enquanto ela dormia) e Charles Perrault, o responsável por adaptar os Contos de Fadas para a infância, moralizando as histórias com fins educativos².

Na verdade, após pesquisar tanto sobre o assunto, fiquei apaixonada não só pelas narrativas simples e efetivas, pois transmitiam um saber ancestral de uma camada da população que não sabia escrever e não tinha como deixar para a História a sua versão dos fatos, como também pelas ilustrações (recomendo Marc Chagall e Gustav Doré) maravilhosas que alguns artistas fizeram para elas. É um universo simples, mas muito rico.

Branca de neve na coleção da Xuxa "conte outra vez"



Bom, agora eu acho que é a hora de dar tchau. Tenho uns exercícios de escrita para fazer e já estou mega atrasada. Espero que tenham gostado deste post e se ficarem interessados em saber mais sobre o assunto é só procurar um desses autores na lista aqui embaixo  que eu super recomendo:

1-Robert Darnton no livro "O grande massacre de gatos"
2- Ana lúcia Merege  no livro "Os contos de fadas"
3-Nelly Coelho no livro "O conto de fadas"
4- Giambattiste Basile no "El Pentamerón" (ou o Pentamerão se você conseguir achar a versão em português)



Tem muitos outros interessantes, mas a maioria são artigos ou monografias que só se encontram em faculdades.De qualquer forma, compre um desses da lista e pesquise os autores da bibliografia. Fica a dica, beijos!

Aleska Lemos








¹Há histórias em que a fome era tanta que os camponeses comiam carne de defuntos. Se você pensar bem, João e Maria também é canibal.
²Um exemplo é a da Chapeuzinho Vermelho. nas versões populares ela era ora devorada pelo lobo ora enganava o lobo com sua mente astuta, mas Perrault transformou a jovem numa burguesa boba e inocente que é engolida pelo lobo e salva pelo lenhador.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Talento ou Prática? O jeito escritor.

Outro dia fui num evento literário e ouvi um comentário que me incomodou muito. A pessoa falava sobre ter que dar apoio àquele amigo que escreveu um livro e de como isso era chato quando o colega não sabia escrever. Segundo ela, era melhor dizer a tal escritor que ele não tinha talento e parar de pagar mico.

Achei uma postura meio cruel, mesmo sendo em tom de piada porque a etiqueta nos proíbe ter essa sinceridade grosseira e imagino que ela não teria coragem de levar essa ideia à cabo (só imagino), mas acontece que ela reforça a ideia de que para escrever você precisa trazer a habilidade consigo, o que sou totalmente contra.

Para escrever, você precisa desenvolver algumas habilidades sim, mas não precisa ser um gênio que traz tudo do berço. Talvez apenas a imaginação tenha que ser uma característica inata, o resto você aprende vivendo. Quer dizer, fazer uma boa redação só depois de fazer dezenas de ruins, conhecer o caráter das pessoas só após  conhecer mil pessoas e quebrar a cara, ser empática só após de anos sendo egoísta e se dando mal, coisas desse tipo.

Então, se o primeiro livro do seu colega escritor for uma merda perdoe e tenha fé que ele vai melhorar. Essa coisa de talento é papo de gente frustrada. O esforço pode te fazer alcançar o mesmo lugar que o talentoso, basta você estudar e praticar sempre que você conseguirá. Não adianta ficar se ligando nessas almas sebosas que gostam de nos dizer que estamos fadados ao fracasso, elas é que tem uma compreensão mais limitada do mundo e não alcançam o "espírito" das coisas, nesse caso o "jeito do escritor" (uma paródia que criei por causa de um vídeo do You Tube chamado "O jeito engenheiro").

Na verdade  cunhar a expressão "o jeito do escritor" também é um pouco errado, porque já que existem vário gêneros literários existem várias formas de escrever e consequentemente varios tipos de escritores. Entretanto sempre gosto de pensar que aquele que inventa histórias é por essência uma pessoa inquieta e que ao por no papel esse comichão intelectual ele se resolve, até a próxima "irritação" aparecer.

Enfim, mas essa foi apenas a minha opinião. A única coisa que tenho certeza é que a musa do post está completamente errada e desejo muita força e fé para vocês que como eu escrevem seus pensamentos mais ínitmos e precisam lidar com essas âncoras da vida.

Grande abraço!
Aleska Lemos.




Sobre fazer terapia

Eu queria usar este blog como um meio de divulgação profissional, mas esse ano eu estive fazendo terapia e as minhas emoções andaram flutuan...